terça-feira, 14 de outubro de 2014

Aécio e Dilma se esquivam do programa espacial


(Mensageiro Sideral - Folha) O programa espacial brasileiro custa à União cerca de R$ 450 milhões todos os anos, com poucos resultados palpáveis ao longo da última década, apesar de sua importância estratégica para o país. E ainda assim os candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff e Aécio Neves, não se sentem motivados a apresentar ao eleitor suas propostas para o futuro do Brasil no espaço.

O Mensageiro Sideral entrou em contato na semana passada com os comitês de campanha das duas candidaturas, na esperança de estimular um debate mais informado e programático para o segundo turno em assuntos de ciência, tecnologia e inovação. Infelizmente, ambos os candidatos optaram por uma saída evasiva.

Foram enviadas aos dois comitês no último dia 7, exatamente uma semana atrás, quatro perguntas, três ligadas ao futuro do programa espacial e uma sobre investimentos na astronomia brasileira. Nenhum bicho de sete cabeças para equipes que aspiram comandar o país nos próximos quatro anos. As perguntas eram:

1- O programa espacial brasileiro se encontra bastante moroso no segmento de veículos lançadores desde o acidente com o VLS-1, em 2003. Caso seja eleita(o), quais são suas ambições para esse setor?

2- Os investimentos no programa espacial têm aumentado de forma significativa na última década, mas não se traduzem em grandes avanços palpáveis. O que está dificultando os progressos?

3- Qual serão as prioridades do Brasil em seu programa espacial para os próximos quatro anos, caso seja eleita(o)?

4- Em 2010, o MCTI assinou um acordo com o ESO para a entrada do Brasil na renomada organização europeia de astronomia. Desde então, o texto tramita no Congresso, sem ser concluído. Sua aprovação terá prioridade caso seja eleita(o)?

O comitê de Aécio Neves foi mais rápido e acusou no mesmo dia o recebimento da mensagem. O de Dilma Rousseff só confirmou a chegada da mensagem três dias depois, após nova inquirição. Ambos foram informados do prazo até segunda-feira (13) para se manifestar a respeito e, de início, os dois lados se mostraram receptivos. “Estamos apurando as informações e te retornamos”, respondeu o comitê de Dilma. “Estamos com a sua demanda”, disse o comitê de Aécio. Por um momento, achei que teríamos subsídios para uma boa discussão.

As ilusões começaram a se desfazer já na sexta-feira, dia 10. Recebi a seguinte comunicação do PSDB: “No momento, não temos como responder as suas perguntas. Envio abaixo o nosso posicionamento do nosso programa de governo. O programa de governo do candidato à Presidência pela Coligação Muda Brasil, Aécio Neves, prevê que o setor aeroespacial será priorizado, depois de ter sido sucateado pelo governo do PT. Os pilares desse fortalecimento passam pela inovação tecnológica conjugada e pela transferência efetiva de tecnologia.”

Vamos combinar que não há muito o que discutir desse pequeno parágrafo. Nenhuma informação que nos permita, dali a quatro anos, cobrar um futuro governante por resultados. Excesso de veneno, ausência de propostas.

Quanto ao comitê do PT, findo o prazo estabelecido, nem voltou a se comunicar para dar alguma satisfação da ausência de resposta às perguntas.

A falta de posicionamento substancial dos dois candidatos me fez por um momento até mesmo cogitar não publicar nada a respeito. Mas optei por fazê-lo, nem que seja para constranger Dilma Rousseff e Aécio Neves. É fato que a cada nova eleição a democracia brasileira se aprofunda e demonstra sinais de renovada maturidade. Ainda assim, uma olhada no encaminhamento da campanha eleitoral mostra que os candidatos hesitam em estabelecer um debate de alto nível, com ideias e propostas concretas. Talvez por medo de se comprometer, mais provavelmente com medo de proferir noções impopulares e perder votos. Mais vale um ataque pessoal, um slogan, uma musiquinha, um trabalho de marketing bem azeitado, do que um conjunto de metas que poderá ser avaliado objetivamente quatro anos mais tarde.

Essa apatia é em especial dramática quando falamos do programa espacial brasileiro, que patina há décadas, consome volume considerável de recursos (embora aquém do que deveria) e sem o qual é impossível construirmos nossa soberania.

O Mensageiro Sideral ainda espera que o tema possa ser debatido durante algum dos debates televisivos entre os candidatos, ou que ao menos Dilma Rousseff e Aécio Neves se disponham a informar aos eleitores por meio de seus amplos canais de comunicação suas posições sobre o tema. É o mínimo que se pode esperar. Porque o Brasil, este sim, não pode mais esperar.
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E mais:
O que nossos presidenciáveis pensam sobre C&T? (Física na Veia)
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Dilma não mostra metas para ciência e ambiente (Maurício Tuffani - Folha)
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O Que Podemos Esperar Ainda do PEB em 2014? (Brazilian Space)
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UPDATE:
Dilma: lançador brasileiro em 2015 (Mensageiro Sideral - Folha)

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