quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Por que tanta gente insiste que astrologia funciona?


(Olhar Cético - Galileu) Todo mundo já deve estar cansado de ouvir as objeções clássicas à astrologia: que se baseia numa visão geocêntrica do Universo; que não há nenhuma força física ligada aos astros capaz de produzir os efeitos alegados pelos astrólogos; que os horóscopos dos jornais são vagos e genéricos; que nenhum teste estatístico jamais foi capaz de confirmar, na população nascida sob um determinado signo, a predominância de características previstas pela astrologia.

A despeito dos fatos do parágrafo acima, milhares – talvez milhões – de pessoas tocam suas vidas confiantes na crença de que a astrologia, de algum modo, funciona. Essas pessoas, em sua maioria, desprezam os horóscopos dos jornais: para elas, a astrologia “verdadeira”, ou “séria”, é aquela baseada em consultas individuais com astrólogos e em mapas astrais. Semana passada, não só o periclitante bilionário Eike Batista invocou o mapa astral para mostrar que os tempos bicudos de suas empresas estão perto do fim, como o caderno de economia de um grande jornal levou o argumento a sério.

No entanto, testes científicos envolvendo mapas astrais – por exemplo, se astrólogos são capazes de associar corretamente os mapas às biografias dos “mapeados”, ou se astrólogos diferentes interpretam um mesmo mapa do mesmo jeito – tendem a produzir resultados “decepcionantes, no máximo pouco melhores que o esperado por puro acaso”, nas palavras do cientista e ex-astrólogo Geoffrey Dean.

Agora: se a coisa é assim, por que tanta gente insiste que astrologia funciona? Ainda citando Dean, acontece que “a astrologia não precisa ser verdade para funcionar”. Um pouco de psicologia ajuda a desfazer o aparente paradoxo.

No caso da visita ao astrólogo, os princípios em ação são os mesmos de uma visita à cartomante: um pouco de simpatia e empatia, algumas generalidades, um pouco de bom senso, alguma leitura fria.

“Leitura fria” é uma técnica que certas pessoas treinam quase como uma arte marcial da mente, enquanto outras aplicam de modo inconsciente e intuitivo. Envolve, entre outras coisas, fazer o consulente fornecer informações vitais sem notar. Por exemplo: “Vejo aqui que você está preocupado com uma mulher...” “Sim! Com a minha mãe! Como você sabia que ela está doente?” Bem, o vidente não sabia: foi você quem disse!

Outro fator que ajuda é a tendência que todos temos de sobrevalorizar o que reforça nossas opiniões e considerar irrelevante o que as contradiz. Assim, cada acerto do astrólogo é algo de magnífico; já os erros são rapidamente relevados e esquecidos. Além disso, o mapa astral, com sua riqueza de símbolos e interpretações, sua ambiguidade intrínseca, funciona como uma tela de projeção, onde o astrólogo e o consulente veem o que querem, ou esperam, ver.

É por isso que correlacionar mapas a biografias, ou conseguir que dois astrólogos, atuando de modo independente, concordem na interpretação de um mesmo mapa, é tão difícil: sem informação de contexto – quem o consulente é, quais seus medos e esperanças – a carta funciona como um teste de interpretação de manchas de tinta no papel.
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E mais:
Debate sobre astrologia: vídeo (Carlos Orsi)
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Horóscopo faz mal à saúde mental (O Globo)
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Astronomia versus Astrologia (AstroPT)
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A astrologia é uma ciência? (Aleteia)

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