terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O futuro da ciência e tecnologia no Brasil

"Para que a ciência brasileira siga competitiva é necessária a construção de um segundo síncrotron, apesar de objeções quanto ao custo do projeto"

(Rogério Cezar de Cerqueira Leite - Folha) No início do governo Sarney, um grupo de cientistas brasileiros apresentou ao recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia um projeto do que seria o primeiro "laboratório nacional" do país e abrigaria o primeiro síncrotron do hemisfério Sul.

Um síncrotron é um acelerador de partículas, neste caso, elétrons, que, acelerados, produzem radiação eletromagnética. Ele seria planejado e construído inteiramente no Brasil e por brasileiros.

Por definição, um laboratório nacional abriga instrumental de grande porte, que só se justifica se compartilhado por um grande número de usuários. Nestes últimos dez anos, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron realizou cerca de 4.000 projetos de pesquisa e acolheu 15 mil cientistas (85% do Brasil e os demais de outros países, principalmente da América do Sul).

Os estudos da natureza da matéria (em todas as formas: gases, líquidos, sólidos, sejam de origem mineral ou orgânica, inclusive biológica) se fazem por meio de fontes de excitação de origens diversas, mas a principal e mais fecunda é a radiação eletromagnética, ou seja, raios-X duro e mole, luz ultravioleta e visível, infravermelha etc.

Um síncrotron, além de produzir toda essa gama de radiações, permite que um número elevado de experiências seja realizado simultaneamente (16, no caso em pauta). Devido às altas intensidades proporcionadas pelo síncrotron, experiências que levariam meses ou anos com outras fontes são feitas em horas ou em dias. Assim, é possível avaliar a imensa economia proporcionada tanto em relação ao tempo dos pesquisadores quanto em relação aos recursos financeiros despendidos pelo Estado.

O que é espantoso é que obstinada oposição se erigiu ao projeto na comunidade científica. O argumento foi o de que o síncrotron "sugaria" recursos de outros projetos. Quando foi criado o síncrotron brasileiro, um dos primeiros de segunda geração, era dos mais eficientes em todo o mundo.

Hoje, apesar de seguidas inserções tecnológicas, ele está sendo ultrapassado por máquinas de terceira geração, o que exige a construção de um segundo síncrotron no Brasil, para que a ciência brasileira continue competitiva.

Mas eis que novamente se levantam obstáculos devido aos custos. Ora, tomando-se em conta o aumento do PIB nacional desde o começo da administração Sarney, o síncrotron de terceira geração, orçado em R$ 350 milhões (em cinco anos), apesar de muito maior e mais eficiente, ficará relativamente mais barato para o Brasil que o de segunda geração (US$ 70 milhões), atualmente em operação.

Apesar do apoio irrestrito da cúpula do ministério, a construção desse imprescindível equipamento para o progresso científico e tecnológico nacional se vê ameaçado.

Será que vamos, desta vez, sucumbir ao distributivismo mediocrizante?

Será que este país, o "impávido colosso", que enfrenta o desafio do pré-sal, que constrói uma Itaipu, uma Embraer, um Pró-Álcool etc,. perdeu a ousadia que teve durante o governo Sarney?

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