segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Agroglifos de Santa Catarina: círculos em plantações ainda não são assunto superado

História se parece demais com um repeteco cansado da farsa britânica da década retrasada


(Olhar Cético - Galileu) Nos meios jornalísticos do Reino Unido, a época entre o fim do verão e o início do outono é conhecida como “silly season”, algo que pode ser traduzido como “temporada tonta” – um período em que o Parlamento e o Judiciário estão em recesso, muita gente sai de férias e, por conta da falta de assunto resultante, jornais, revistas e estações de TV passam a dar espaço para temas que dificilmente seriam considerados publicáveis nos meses de noticiário mais denso.

Durante boa parte da década de 80 e até 1991, os círculos de plantação foram parte inescapável da “silly season” britânica. Esses círculos eram padrões, alguns até muito belos e intricados, que apareciam desenhados em campos de cereais da Inglaterra. Hipóteses apresentadas sobre sua formação iam desde vórtices inteligentes de plasma a, claro, intervenção extraterrestre. Muitos supostos “especialistas” declararam aos jornais que os desenhos, produzidos pelo achatamento das hastes de plantas de trigo, jamais poderiam ter sido feitos por mãos humanas.

Em 1991, dois homens, Doug Bower e Dave Chorley, confessaram ter criado os primeiros círculos. No mesmo ano, o físico britânico Martin Hempstead produziu alguns círculos que foram declarados legítimos pelos mesmos “especialistas” da origem extraterrestre tão avidamente ouvidos pelos jornalistas da “silly season”.

Em 1992, foi realizado, também na Inglaterra, o Primeiro e Último Concurso Internacional de Criação de Círculos de Plantação, que pagou um prêmio de 3 mil libras (algo perto de 10 mil reais) para os vencedores, um trio de engenheiros que criou um padrão complexo de hieróglifos “alienígenas” em apenas uma noite de trabalho.

Esses ganhadores usaram um cano de PVC para achatar as plantas, além de um par de escadas de alumínio e uma tábua para criar pontes temporárias que lhes permitiam andar pelo campo cultivado sem deixar rastros muito evidentes. Na mesma época, um grupo de artistas, chamado Circlemakers, começou a espalhar círculos em plantações pelo mundo – esse coletivo ainda está em atividade e tem um site bem interessante, aliás. É só buscar no Google.

Tudo isso aconteceu há mais de dez anos, e seria de se esperar que o assunto já estivesse superado, mas parece que a mídia brasileira também tem sua “silly season”: no feriado de finados, o surgimento de círculos, agora chamados de “agroglifos” – das palavras gregas “agro” (campo) e “glifo” (entalhe) – na cidade catarinense de Ipuaçu causou um módico frisson jornalístico. Os desenhos em Santa Catarina vêm aparecendo já há seis anos, de acordo com o noticiário. E ufólogos, ouvidos, atribuem sua criação a alienígenas.

A palavra “agroglifo” é uma simpática inovação, mas fora isso, todo o resto da história se parece demais com um repeteco cansado da farsa britânica da década retrasada. Se a falta de assunto da “silly season” não permite fugir do tema, seria interessante, ao menos, diversificar as fontes: no sul do Brasil, o grupo Ácido Cético, que conta com professores da UFRGS, certamente teria uma ou duas coisas interessantes a dizer a respeito do “mistério”.

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