quarta-feira, 22 de julho de 2009

Incredulidade quanto à conquista da Lua

(Ulisses Capozzoli - Scentific American Brasil) Quarenta anos depois da descida da primeira tripulação humana na Lua, a Apollo 11, que pousou no Mar da Tranqüilidade, ainda há quem não acredite que, de fato, isso aconteceu.

Muitos podem concluir que se trate de pura ignorância.

A resposta, no entanto, talvez seja um pouco mais complexa.

A natureza do céu sempre provocou controvérsias e, com a Lua, não é diferente.

Quando apontou sua luneta para o satélite da Terra, em 1609, e se deu conta de que sua superfície é irregular, Galileu não venceu a resistência de Clavius, que o papa Gregório XIII encarregou da reforma do Calendário Juliano para a produção do Calendário Gregoriano, com que continuamos a nos orientar no fluxo do tempo.

Galileu argumentou que a Lua era irregular, contrariando a visão aristotélica envolvendo uma pretensa perfeição da esfera, o que significa dizer que a Lua deveria ser tão lisa quanto a superfície de uma gigantesca bola de bilhar.

Clavius respondeu que se tratava de pura “ilusão de óptica”. Ou seja, a Lua estaria envolta por uma camada translúcida, que faria dela exemplo inquestionável de uma perfeita esfera.

Matemático talentoso, Clavius, que agora é ironicamente nome de uma cratera na Lua (o que forma uma das irregularidades da superfície lunar) não poderia ser chamado de “ignorante”.
Talvez um ortodoxo excessivo, ainda que fosse mais compreensível à época.

Neste início de século 21, no entanto, é possível que um número razoável de pessoas (a maioria delas?) interprete o céu, ou seja, o espaço cósmico, com uma dimensão mitológica, onde estariam as divindades.

Neste caso, o corpo inteiro da Galáxia e mesmo o que se estende além dela, são entendidos puramente no sentido religioso.

Jogadores de futebol, por exemplo, casos acabados de superstição, quando marcam um gol não apontam os braços para o céu? E, neste ato, não refletem o que faria, em situações parecidas, uma boa parte das pessoas?

Assim, o que se tem por trás do ceticismo quanto à descida de uma tripulação na Lua (na verdade, várias tripulações, da Apollo 11 a 17, com exceção da 13 que se acidentou no espaço) é uma espécie de ciência mágica que sobreviveu ao fim da Idade Média e chegou à contemporaneidade.

Na interpretação do astrônomo e divulgador de ciência americano, Carl Sagan, (em O mundo Assombrado pelos Demônios – a ciência como uma vela no escuro) essa realidade revela a impotência da ciência em fazer um relato crível acessível à toda a sociedade humana.

E essa impotência da ciência deixa um espaço perigoso para a mistificação.

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