segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Voyager e o iPhone


(Mensageiro Sideral - Folha) Quando eu apresentei cinco provas da ida do homem à Lua, teve gente dizendo que seria impossível pousar em nosso satélite natural com os precários computadores instalados a bordo das naves Apollo. Curiosamente, ninguém duvida que a sonda Voyager tenha conseguido sair do Sistema Solar, depois de visitar vários planetas, com um trio de computadores cuja memória de trabalho* combinada era de meros 68 kbytes, o que limitava severamente seu modesto poder computacional de 8.000 operações por segundo.

Para mandar sua vasta biblioteca de resultados — que obviamente não cabia na memória dos computadores de bordo –, a nave dispunha de um gravador de fita magnética. Uma vez registrados, a fita era rebobinada e “tocada” de volta para a Terra. E assim obtivemos as incríveis imagens de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno colhidas pela sonda.

Tem gente comparando ao iPhone. Pelamordedeus. O primeiro iPhone, hoje já muito ultrapassado, tinha memória RAM de 128 megabytes. 1 MB é 1.000 vezes mais que 1 KB. Isso significa que, no seu bolso, um aparelho de seis anos atrás, tem cerca de 2.000 vezes mais poder computacional que as sondas Voyager.

Então, qual é o segredo do sucesso? Como essas máquinas podem estar até hoje nos assombrando, 36 anos depois de seu lançamento? Bem, para começar, programação esperta e focada. O sistema da Voyager era distribuído entre três computadores. Um controlava os instrumentos, outro o voo e um terceiro comandava os outros dois. As instruções eram simples, e as opções, limitadas.

Não estamos falando de um computador multifuncional, capaz de executar qualquer tarefa, de editar vídeos a executar games. Ele tinha um propósito bem definido.

O maior segredo da Voyager, contudo, não eram seus computadores. Eram os controladores em solo, usando uma máquina vastamente mais poderosa que o mais recente iPhone 5S: o cérebro humano.

É verdade que, a uma imensa distância da Terra, as sondas precisavam ser automatizadas e autônomas, dotadas de inteligência artificial capaz de reagir ao ambiente sem “consulta” ao controle da missão. Contudo, essas variáveis e o plano de voo eram todos definidos em terra, para depois serem “carregados” nos computadores da nave.

A mesma coisa valeu para as naves Apollo pousando na Lua: quando Armstrong e Aldrin desciam para a alunissagem, em 20 de julho de 1969, o computador de bordo deu tilt. Excesso de dados dos instrumentos sobrecarregaram a memória. Sem problemas. Olhando pela janela, Armstrong seguiu pilotando o módulo lunar enquanto o computador era resetado. O pouso foi realizado quando só restavam 25 segundos para o esgotamento do combustível, e o astronauta precisou desviar de um morro antes de descer.

Os grandes feitos da era espacial ajudaram a desenvolver os computadores, de forma que hoje podemos celebrar nossos smartphones e comemorar seus primos precários das décadas de 60 e 70. Mas nunca se pode perder de vista que a máquina de pensar mais poderosa existente, tanto lá quanto cá, ainda é a mente humana.

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