terça-feira, 6 de novembro de 2012

Astrônomo: círculos em plantações criaram "turismo dos malucos"



(GHX / Terra) Os curiosos e imensos círculos em plantações de cereais não são mais novidade, pois já existem registros desse tipo há décadas, no mundo todo. Apesar disso, ainda intrigam muita gente e despertam a fascinante dúvida: serão sinais da presença de extraterrestres? Ufólogos se deliciam com os acontecimentos, enquanto os céticos afirmam que se trata apenas de traquinagem de desocupados. Mais uma vez, esse questionamento recai sobre os moradores de Ipuaçu, cidade catarinense de 7 mil habitantes.

No dia 13 de outubro, pelo quinto ano consecutivo, surgiram agroglifos (como são chamadas as marcas pelos amantes da ufologia) em lavouras do município, situado no oeste de Santa Catarina. O círculo principal, com 40 m de diâmetro, foi circundado por 30 outros, menores.

Na cidade, os sinais foram registrados pela primeira vez em novembro de 2008 (de lá para cá, são vistos sempre nessa época do ano) e deram início às discussões entre ufólogos e astrônomos. Acredite ou não, o estudo dos círculos com a abordagem extraterrestre tem até nome: cereologia. O presidente do Grupo de Estudos de Astronomia do Planetário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Adolfo Stotz Neto, conta que já se envolveu em discussões desse tipo. "Ufólogo discute com emoção, mas você tem que derrubar as ideias dele", diz o professor, afirmando que a pequena cidade do oeste catarinense nunca mais foi a mesma. "Conseguiram colocar Ipuaçu no mapa. Até mesmo do turismo. Turismo dos malucos."

O professor explica por que descarta a hipótese de as marcas serem obras de seres de outros planetas. "A estrela mais próxima além do Sol está a 4,2 anos luz. Se uma nave nossa - não tripulada, é claro - viajar a 70 mil km/h, a maior velocidade que conseguimos, levaria 65 mil anos para chegar lá", explica, indo além em sua suposição. "Vamos supor que o extraterrestre saiu do sistema vizinho, gastou uns 10 anos para chegar aqui, vencendo uma distância invencível, fez um círculo e foi embora. Teria que ser um idiota absoluto. Isso funciona muito bem no cinema, só."

Ele cita o projeto SETI@Home (Seti at home), lançado no final dos anos 1990 com o propósito de monitorar qualquer sinal de vida extraterrestre inteligente. Até hoje, não houve registro de nenhum desses sinais. "Eu mesmo olho para o céu desde os 12 anos, e hoje tenho 62 e já visitei os maiores observatórios do mundo. Nenhuma pessoa entendida registrou algo desse tipo", conta.

No cinema
O cinema pode influenciar na interpretação dos círculos. Em 2002, o filme Sinais, protagonizado por Mel Gibson, transmitiu um pouco a tensão de um mundo invadido por alienígenas hostis. Antes da visita dos possíveis colonizadores se tornar um fato conhecido por todos, o personagem principal notava, constantemente, círculos como esses em sua propriedade. O diretor M. Night Shyamalan brincou com os crop circles (círculos da colheita, em inglês, como são chamados os desenhos), dando a imaginar como seria se eles realmente fossem feitos por extraterrestres e fornecendo combustível ao imaginário popular.

Como tudo começou
Mas os primeiros registros de agroglifos são muito mais antigos: de meados da década de 1970, em plantações de trigo, aveia e cevada do sul da Grã-Bretanha. As imagens se formavam a partir de caules achatados, o que deixava as plantas caídas e resultava em formas geométricas em meio às lavouras. Os primeiros símbolos eram simples círculos, sem nenhum rebuscamento artístico. Logo de cara, passou-se a cogitar que esses estranhos desenhos pudessem ser marcas para alienígenas ¿ uma indicação para pouso ou algo do tipo. Assim que o fenômeno tomou notoriedade, desenhos parecidos começaram a ser registrados também na Ásia, África e Oceania.

Desde então e até hoje, centenas de agroglifos aparecem a cada ano em todo o globo. Em 1991, no entanto, os ingleses Doug Bower e Dave Chorley cansaram do anonimato e revelaram, publicamente, serem os primeiros a desenharem os círculos, prática que mantiveram ao longo de 20 anos. Foi o surgimento de um novo gênero de arte, que hoje é feita em proporções gigantescas, envolvendo o desenho de formas cada vez mais complexas.

Apesar de, em um primeiro momento, poder significar um prejuízo na colheita dos fazendeiros (o que é questionável, já que as hastes não são rompidas, apenas dobradas), a travessura tem outra conotação na região de Wiltshire, na Inglaterra, onde as marcas aparecem com mais frequência. O turismo é alavancado e muita gente paga aos proprietários para visitar o local - sem contar a venda de souvenires e os passeios de helicópteros, que atraem os interessados em ufologia. Eis aí uma interessante trinca que, a princípio, representa partes antagônicas. Ao analisarmos de maneira mais cuidadosa, notamos que elas se completam. Ufólogos tentam, de qualquer modo, vincular os agroglifos com entidades extraterrenas. Enquanto isso, artistas reivindicam a autoria dos desenhos e os fazendeiros querem apenas que não lhes incomodem mais. Entretanto o caráter místico dos círculos é que traz a fama à produção dos artistas e pode render um certo lucro ao dono das terras contempladas com a arte.

Como são feitos
Mas se não é autoria dos ETs, como, então, foram feitos esses desenhos gigantes? O material necessário para desenhar os sinais é muito simples, de acordo com Stotz Neto. "As plantações de hortaliças são amassadas com uma tábua e uma corda. Se a pessoa for caprichosa, desenhando o projeto em casa e usando uma fita métrica, dá para fazer coisas lindíssimas", conta. O segredo já foi revelado até em programas de televisão. Depois de definido e marcado o comprimento do raio, com uma fita ou uma corda, um membro da equipe fica no centro. Outro membro pega uma tábua de cerca de 1,5 m, com cordas nas suas duas extremidades, e amassa os caules empurrando a prancha com um pé, segurando-a pelas cordas. Após percorrer a circunferência, é só fazer o mesmo até o centro do círculo.

Sozinhos?
A desmistificação, porém, não é suficiente. Ufólogos encontram características particulares em cada desenho para questionar a verossimilhança da ação humana nos locais. E boa parte da população tende a optar, também, pelas explicações sobrenaturais. "Desde que o ser humano se autocivilizou, de 10 mil anos pra cá, tem esse sentimento de inferioridade, de que há algo superior. Vinha um trovão ou um tsunami e só podiam atribuir isso a deuses. Mas hoje nós conhecemos perfeitamente as causas disso", opina Adolfo Stotz Neto.

"Melhor que não venham"
Isso não quer dizer, contudo, que estejamos "sós" no universo. "Seria um exercício de idiotice dizer que estamos sozinhos. Somos um planeta muito pequeno, ao lado de uma estrela de quinto tamanho. Só na nossa galáxia há 400 bilhões de estrelas com 70% do tamanho da nossa", afirma o pesquisador. Além disso, o professor se baseia, ainda, em aspectos históricos para afirmar que uma hipotética visita de extraterrestres não deveria ser tão bem-vinda assim. "A história das civilizações mais adiantadas nos mostrou que sempre optaram pela destruição das civilizações menores. Então é melhor que não venham", conclui.
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