sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Balelas sobre cometas



(Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1) Tenho um colega astrônomo que costuma dizer que o “1º de abril” da astronomia é o dia 27 de agosto. Todos os anos, invariavelmente, recebemos um e-mail com algum powerpoint dizendo que Marte vai ficar do tamanho de uma lua cheia. Agora que agosto já passou, posso apostar que surgirá com força a história do cometa Elenin.

Para dizer a verdade, e-mails sobre o Elenin já vêm perturbando desde o ano passado. Os fatos são os seguintes:

O cometa Elenin – também conhecido como C/2010 X1 – foi descoberto por Leonid Elenin, usando um telescópio no Novo México operado remotamente na Rússia em dia 10 de dezembro de 2010.

Naquela ocasião, o cometa estava a 650 milhões de quilômetros de distância da Terra. Como todo cometa faz em algum momento, estava em aproximação da Terra. Na verdade, o cometa fica perto da Terra porque está indo em direção ao Sol. Todos os cometas fazem isso.

O Elenin, em específico, estará a 35 milhões de quilômetros da Terra no dia 16 de outubro. Até lá as mais variadas bobagens vão pipocar na internet.

Uma delas diz que o cometa passará entre a Terra e a Lua. Outra diz que o cometa vai influenciar as marés e alterar o movimento das placas tectônicas no planeta. Isso é absolutamente impossível de acontecer, uma vez que a massa do cometa e sua distância de 35 milhões de quilômetros (90 vezes maior que a distância Terra-Lua) fazem com que a força gravitacional exercida sobre a Terra seja praticamente zero.

Uma terceira balela diz que o cometa Elenin irá bloquear o Sol por três dias. Antes de tudo, o núcleo do cometa não vai sequer vai cruzar o disco do Sol, quando visto da Terra.

Supondo que ele passasse, para que o Sol fosse bloqueado, um eclipse cometário teria de acontecer. Como o núcleo do cometa deve ter por volta 3 a 5 km de diâmetro, ele deveria estar a uma distância de uns 400 km da Terra para que esse efeito fosse possível. Essa é a altura da órbita da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).

Outra bobagem é dizer que a Nasa está escondendo os fatos. Eu mesmo, ao escrever um texto que nada tinha a ver com o Elenin, fui acusado de estar acobertando fatos importantes somente por me recusar a falar sobre ele.

A Nasa – assim como eu ou qualquer outro astrônomo – está dando pouco destaque ao Elenin simplesmente porque este é um cometa que ainda está fraquinho e, aparentemente, não vai dar show, como o do Hale Bopp há alguns anos. Talvez ele se pareça um pouco com o Lulin.

Conforme os cometas se aproximam do Sol – e, por consequência, da Terra –, o brilho desses astros aumenta. Até agora, não há nenhuma esperança de que em 16 de outubro o Elenin esteja muito brilhante. Na verdade, as previsões são que o cometa só seja visível em locais escuros e com um par de binóculos.

Nesse caso, bem que a bobagem poderia ser verdade e o cometa bem que podia ficar super brilhante.
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E mais:
Fim do mundo adiado! (Cassio Leandro Dal Ri Barbosa - G1)

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