Partículas da chuva vermelha de Kerala
A hipótese alienígena, no entanto, era interessante demais para ser deixada de lado, e voltou com tudo no fim de agosto, com a publicação online de um artigo científico descrevendo como as partículas da chuva vermelha se reproduzem — quando submetidas a uma temperatura mínima de 121ºC.
Esse artigo tem a distinção especial de ser assinado por ninguém menos que Chandra Wickramasinghe, pai, juntamente com o falecido Fred Hoyle, da versão moderna da hipótese da panspermia, segundo a qual a vida na Terra teria sido semeada por partículas, ou mesmo organismos, vindos do espaço.
(Hoyle, um grande cientista que deu importantes contribuições à teoria da formação de elementos químicos no interior das estrelas, foi preterido pelo Prêmio Nobel, supostamente por sua defesa de teses pouco ortodoxas — além da panspermia, ele se batia pela teoria do “Universo de estado estável”, que descarta o Big Bang como ponto inicial da expansão do cosmo. Ele ainda escreveu meu romance de ficção científica favorito, A Nuvem Negra.)
No artigo de agosto, Wickramasinghe e colegas descrevem como as partículas vermelhas da chuva aumentam de número, com células “filhas” se formando no interior de células “mães”, quando submetidas a uma temperatura letal para a maioria das formas de vida terrestres.
O “paper” não chega a afirmar uma origem alienígena para as criaturas, lembrando que na Terra mesmo existem organismos extremófilos, que prosperam em condições que a vida “normal” consideraria desesperadoras. Curiosamente, os extremófilos vêm sendo muito estudados como modelos para hipotéticas formas de vida extraterrestres.
Nebulosa do Retângulo Vermelho: cheia de vida?
Completando o argumento, a equipe de Wickramasinghe informa que as células da chuva vermelha cintilam, quando excitadas por luz ultravioleta, de forma que corresponde, de um modo “impressionante” (dizem os autores) à cintilação da Nebulosa do RetânguloVermelho — acima, em foto do Hubble. E a cintilação da nebulosa, nas palavras do artigo, não é explicada por “um modelo não biológico convincente”.
Retângulo Vermelho fica a uns 2.000 anos-luz daqui.
E onde tudo isso deixa a nós, leigos? É importante, primeiro, reforçar que em nenhum momento do artigo os pesquisadores afirmam que a chuva vermelha teve, de fato, origem alienígena. Eles apenas apontam indícios e argumentos que aparentemente favorecem essa hipótese.
O trabalho provavelmente será criticado por outros cientistas, que talvez até tentem reproduzi-lo e oferecer interpretações diversas. Se obterão sucesso é algo que temos de esperar para ver.
Eu pessoalmente fico torcendo para que Wickramasinghe esteja certo — um Universo onde micróbios se formam no vácuo ao redor de estrelas distantes e depois caem do céu me parece muito mais interessante que um onde a abiogênese se dá em oceanos ou poças de lama primordial — mas existe uma diferença entre preferência estética e convicção racional.
Como dizem os colegas de ultramar, a ver veremos.
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