terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ode à Astronomia

(Daniel Soler - iG) Uma vez um homem chamado Henri Poincaré disse o seguinte:

"A Astronomia é útil porque nos eleva acima de nós mesmos; é útil porque é grande, é útil porque é bela; isso é o que se precisa dizer. É ela que nos mostra o quanto o homem é pequeno no corpo e o quanto é grande no espírito, já que nesta imensidão resplandecente, onde seu corpo não passa de um ponto obscuro, sua inteligência pode abarcar inteira, e dela fruir a silenciosa harmonia. Atingimos assim a consciência de nossa força, e isso é uma coisa pela qual jamais pagaríamos caro demais, porque essa consciência nos torna mais fortes."

Será que algo mais precisaria ser dito a respeito da Astronomia?

Muitos certamente diriam que sim.

Talvez diriam que a Astronomia, assim como todas as demais ciências, contribuiu e contribuiu para as diversas frentes de desenvolvimento da raça humana, possibilitando uma melhor compreensão a respeito da Natureza, e dos meios pelos quais podemos interferir nela a nosso favor e em nosso benefício.

Ou diriam que a Astronomia é uma excelente ferramenta, um excelente meio, para o ensino e a divulgação de outras ciências. Ela seria uma facilitadora na aproximação das pessoas para questões relativas às ciências, portanto, dado o interesse que naturalmente a Astronomia parecesse despertar em boa parte das pessoas em geral. Ao contrário, muitas vezes, de outras ciências naturais, por exemplo, como a Física, a Matemática, a Química e a Biologia.

Ou ainda diriam que ela é uma excelente ferramenta para se estudar o funcionamento da própria mente humana, pois o grau de abstração necessário, para a compreensão de certas questões relativas à Astronomia, é um campo fértil para estudos sobre como compreendemos e assimilamos determinados fenômenos que nossos sentidos nos permitem (ou não) captar.

Ou então diriam que é ela é a ciência do futuro. Que todos os conhecimentos que têm se acumulado ao longo dos séculos, principalmente nos cinco últimos, a respeito das coisas relativas ao cosmos, dos assuntos que tratem de corpos/objetos extraterrenos e/ou de suas possíveis relações/interações com o planeta Terra, serão essenciais quando as viagens interplanetárias se tornarem plena realidade. Quando a raça humana começar, por exemplo, a colonizar outros corpos celestes - a Lua e Marte em primeiro lugar, provavelmente.

Também diriam, ao contrário, que é a ciência do passado. Que foi a primeira ciência natural, mesmo quando ainda não havia se quer a clara distinção que existe hoje entre as ciências e as demais áreas de conhecimento humano. Que o vislumbre do céu, e o questionamento sobre os fenômenos que lá ocorriam e ocorrem, fizeram parte dos primeiros lampejos científicos ocorridos em membros da raça humana, desde o início da nossa História.

Ou que a Astronomia é só mais uma área do conhecimento humano, como outra qualquer. Que tem suas peculiaridades, sua própria histórias, seus próprios “grandes nomes” históricos, sua própria epistemologia, seus métodos, seus objetivos, seus jargões, seu vocabulário, seus domínios, suas bases, seus alicerces, suas fronteiras, seu destino. Mas os tem assim como qualquer outra área do conhecimento, em especial as ciências, como Física, Matemática, Química, Biologia, Línguas, História, Geografia, Filosofia, Psicologia, etc, etc, e etc. Não tem, portanto, nada de especial, é só mais uma.

Ou então, talvez, que a Astronomia não é de fato útil. Que não há aplicabilidade direta, em benefícios para a sociedade global, para os conhecimentos desenvolvidos ao longo dos séculos pelos Astrônomos. Que não passam de meras curiosidades, coisas talvez até interessantes de se saber e ouvir falar, que talvez algum dia tenham sido úteis, mas que não servem verdadeiramente para nada realmente útil para as pessoas, principalmente no seus dia-a-dias.

Com absoluta certeza, todas essas coisas - e muitas e muitas outras - precisam ser ditas sobre a Astronomia. Precisam ser “colocadas em pauta”, questionadas, discutidas, comentadas. É saudável, é necessário, é fértil para o desenvolvimento de qualquer área de conhecimento humano, esse olhar para si mesmo, esse questionamento a respeito da própria existência e dos seus porquês. É assim que se ganha força, se ganham novos adeptos, se tomam novos rumos, aspectos se cristalizam, outros são abandonados, ocorrem rupturas, tudo em prol de uma melhoria acolhida coletivamente (desejando-se isso ou não). É algo inexorável.

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