quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Escola científica ensina pensamento crítico a crianças de Natal

Centro de Educação dá formação científica a alunos da escola pública da periferia da cidade

Os alunos aprendem os conteúdos por meio de muita experimentação

(iG) É a hora do lanche, tradicionalmente a hora mais feliz em uma escola. Num refeitório com cara de corredor, pré-adolescentes conversam animadamente entre uma garfada e outra. Ninguém grita ou faz estripulias. Também não há sinal de campainha que indique o fim do período de descanso. Quase que como mágica os alunos se levantam, pouco a pouco, e voltam para a sala em passos rápidos, comuns da idade. Só que neste caso eles estão indo para a aula de física. A tarefa é explicar porque quando o interruptor é acionado, a luz se acende.

Mas nada de cara feia. Perguntas deste tipo farão parte do cotidiano dos alunos durante todo o ano para esta turma do Centro de Educação Científica da Escola Alfredo J. Monteverde, em Natal. A escola atende a 1400 alunos de escola pública da cidade e tem como objetivo ensinar o pensamento científico. “A gente trabalha a partir do que o aluno sabe para aproximar com o conhecimento científico”, explica a diretora, Dora Montenegro.

O projeto, elaborado pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, nasceu em 2007 e a previsão é que em 2011, um total de 1900 alunos seja atendido nas quatro unidades do centro de educação científica – duas em Natal, uma em Maracaíba (RN) e outra em Serrinha (BA). O projeto é financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, governos estaduais e municipais e também, por empresas privadas.

As crianças do projeto estudam regularmente nas escolas públicas. Estão entre o 6º e 9º ano do Ensino Fundamental e do Médio. No horário contrário ao das aulas do ensino regular, eles frequentam duas vezes por semana o centro de estudos. A duração do projeto é de três anos e a cada ano os alunos freqüentam duas oficinas, que podem ser de tecnologia, robótica, química, biologia, física ou história.

Ali, nada de livros didáticos, seja na sala de aula, ou na biblioteca. O material usado é revistas, enciclopédias, livros teóricos, computadores ligados à internet. “Os livros didáticos vêm com perguntas e respostas e aqui a gente quer estimular justamente a formulação destas perguntas e respostas, o pensamento crítico da criança”, diz.

Alunos fazem experiências e investigam, na sala de aula, com funciona a eletricidade

Perguntas e respostas
Na sala de aula, muita conversa e foco nos experimento. Tanto que nada, nem mesmo um repórter com máquina fotográfica, perturba o momento de estudos. Os alunos levantam a cabeça, sorriem e continuam naquilo que estavam fazendo antes. Afinal, porque a luz acende quando pressionamos o interruptor?

Para ajudar na elaboração da respostas, maquetes de casas com sistema elétrico estão espalhadas pela mesa. Em grupos, eles conversam baixinho, meio que trocam confidências sobre o assunto. No fim da aula escrevem o que concluíram. Dois professores monitoram os experimentos.

“Todo menino quando estimulado, aprende. Nós queremos quebrar a lógica perversa. Ter sucesso significa dar o melhor de si”, diz Dora. Ela conta, cheia de orgulho, que no ano passado, um aluno que freqüentava a oficina de física ajudou o pai a refazer o sistema elétrico da casa. “Aqui a ideia é problematizar um conceito, propor um projeto de pesquisa e aprende a estudar por conta própria”, diz.

As aulas são mesmo muito diferentes de uma escola comum. Edson Fernandes dos Santos Júnior tem 14 anos e desde 2008 frequenta às aulas do Centro de Educação. Neste ano cursa as oficinas de História e Física. Ele conta que só passou de ano por causa das aulas de educação científica. “Aqui é mais fácil de aprender, porque a gente faz experiência, no colégio não tem nada disso”, diz Edson.

Próximo ao meio dia, os alunos já estão por terminar os experimento e formular o texto com suas conclusões ou dúvidas. A diretora da escola explica que se naquela manhã não foi possível chegar a uma conclusão, não há problema, na ciência é assim mesmo, um experimento pode servir simplesmente para comprovar que aquilo não serve para nada.

Terminada a manhã, os alunos saem risonhos. Têm tempo suficiente para almoçar e ir para a escola, desta vez uma escola normal, com livros cheios de perguntas e respostas.

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