quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Como aumentar a visibilidade da ciência na Unesco, entrevista com Lidia Brito

(SciDev.Net / JC) Recém-eleita chefe de política científica da Unesco, a moçambicana fala sobre as ações que pretende implementar no órgão das Nações Unidas

Em outubro, Lidia Brito, ex-ministra da Ciência de Moçambique e pesquisadora florestal da universidade Eduardo Mondlane, foi escolhida como chefe da divisão de Política Científica da Unesco.

Ela assumiu o posto no dia 1 de dezembro, substituindo Mustafa El Taeyb, que havia liderado a política científica da Unesco desde 1996.

A experiência de Lídia em planejar e implementar iniciativas de sucesso em Moçambique assegura que sua escolha para o cargo é popular, particularmente por ela trabalhar com países do continente para que desenvolvam suas próprias políticas. Ela conversou com o Portal SciDev.Net:

- No passado, as pessoas reclamavam que o S da Unesco parecia ser mudo - que a ciência ficara para trás em relação à educação e cultura nas atividades da organização. Isso está mudando?

A política científica está se tornando uma grande prioridade para governos nacionais e para a Unesco. Aumentamos nosso orçamento para isso e esperamos continuar nesse caminho. Há muitas demandas para esse tipo de serviço nos estados membros e precisamos de mais capacidade para entregar um bom produto. Tendo isso em vista, precisamos fazer mais para melhorar a visibilidade da ciência na Unesco. Mas acho que esse é o caminho da organização. Se você ler os discursos da nova diretora geral, Irina Bokova, verá que ela tem mencionado a ciência como uma parte muito importante do trabalho da Unesco. Logo, há um nicho para a ciência no sistema das Nações Unidas. Obviamente, temos muitos desafios - por exemplo, precisamos fortalecer nossas parcerias dentro do sistema da ONU e com outras organizações. Já há vínculos, mas precisamos usá-los melhor. Estamos dizendo que 2010 será o "ano da parceria" para nós. Vamos aumentar e fortalecer as parcerias que temos. Mas também temos algumas vantagens competitivas que devemos explorar melhor.

- Quais?

Nossa vasta experiência interna, o poder de reunir, organizar e promover diálogos multilaterais sobre ciência para o desenvolvimento, para a paz, para a melhoria da sociedade... São características importantes da Unesco que nos dão um desafio.

- Quais são as maiores barreiras para criar boas políticas científicas nos países em desenvolvimento e quais os melhores caminhos para superá-las?

Um desafio chave é a capacidade. Qualquer política pública deveria ter uma propriedade nacional forte e você deve ter capacidade para isso. Essa é a razão de a maioria de nossos programas na Unesco focarem na construção de capacidade para que os governos possam ter uma equipe nacional forte. Outro ponto é assegurar que a política científica transpasse todos os setores relevantes do governo. Boas políticas de ciência criam base para melhorar outras ações e para implementá-las com mais relevância e efetividade. As políticas científicas devem se estender à mídia para que o público em geral possa tomar decisões informadas baseadas em informações científicas. Para terminar, há uma lição que aprendi em Moçambique: quando você começa a planejar suas políticas científicas, você deve começar a orçar algumas atividades piloto imediatamente. Assim se mobiliza atores que estarão envolvidos de qualquer forma quando a implementação começar. É também uma forma de chamar a atenção para a política.

- A Unesco ajuda países a desenhar suas políticas científicas, mas tem pouca verba para ajudá-los a implementá-las. Como assegurar que essas políticas não se resumam a palavras no papel e sejam traduzidas em ações?

Temos um bom exemplo na Tanzânia. O governo liderou um processo, apoiado pela Unesco, de mobilização de recursos com outros atores para poder implementar sua política. Vontade política é muito importante nesse contexto. Claro, isso se aplica a qualquer política pública. Mas acredito que no caso da ciência é ainda mais importante pois são ações estruturais que precisam transpassar todo o governo.

- Quais são suas outras prioridades para atividades relacionadas a políticas científicas na Unesco?

Queremos integrar melhor nosso trabalho com outros braços da Unesco. Uma prioridade é trabalhar mais próximo dos programas de ciências sociais mas também precisamos agir melhor com educação, comunicação e informação. Ainda tentamos melhorar nossa capacidade em uma forma menos tradicional. Por exemplo, queremos saber se podemos usar nossos programas de universidade virtual para oferecer mais treinamentos em política científica. A comunicação da ciência é outra coisa na qual sentimos ser necessário investir mais. Ela é muito importante para o monitoramento das políticas e seu impacto. Resumindo, ainda estamos no começo e preciso de um pouco mais de tempo para concretizar esses planos.

- E os novos programas?

Há muitas ideias. Estamos discutindo o que mais poderíamos fazer para o Dia Internacional da Ciência (10 de novembro). Ele pode se tornar um verdadeiro gatilho para ciência e desenvolvimento? Podemos fazer da celebração desse dia um processo que realmente move e mobilizar diferentes atores? Estamos discutindo também a possibilidade de estender nossos programas de história da ciência. Fizemos isso nos países árabes, mas agora estamos vendo se conseguimos envolver a China e talvez estender as atividades para a África e a América Latina. Outra ideia é criar museus virtuais de ciência da mesma forma que a seção de cultura da Unesco fez com artefatos normais. Mas muitas dessas idéias ainda precisam ser discutidas e passar por um processo de planejamento.

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