quinta-feira, 16 de julho de 2009

Pesquisa: 6% dos americanos não acreditam em pouso na Lua

Edwin Eugene "Buzz" Aldrin foi o segundo homem a pisar na Lua, em 20 de julho de 1969


(The New York Times / Terra) São pessoas comuns, que coexistem conosco, e não parecem muito diferentes dos demais seres humanos. É difícil perceber sua verdadeira natureza, na maioria do tempo - não fosse pelo fato de que, ocasionalmente, se sentem compelidos a se pronunciar.

O blog de fotografia do New York Times, intitulado Lens, serve como exemplo desse comportamento. Um recente post, com o título "Dateline Space", exibia uma série de impressionantes fotografias espaciais da coleção da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), entre as quais a marcante imagem do astronauta Neil Armstrong posando na superfície da Lua.

Mas o segundo comentário ao post afirmava, categoricamente, que "o homem jamais chegou à Lua". O autor do comentário, Nicolas Marino, prosseguiu em seu raciocínio afirmando que "acredito que a mídia deveria parar de difundir algo que foi uma completa trapaça, e começar de uma vez por todas a documentar a mentira gritante que eles contaram ao mundo".

Quarenta anos depois que o homem pousou pela primeira vez na poeira estéril da Lua 0 e o pouso aconteceu. De verdade. Juro.-, as pesquisas de opinião pública continuam consistentemente a sugerir que cerca de 6% dos americanos acreditam que as missões tenham sido falsificadas, e que não teria sido possível que elas fossem realizadas. A série de pousos, uma das maiores e mais vitoriosas apostas científicas da história da humanidade, teria na verdade sido uma elaborada trapaça cujo objetivo era o de estimular o orgulho patriótico dos norte-americanos, insistem muitos desses descrentes.

Eles examinam as fotos das missões em busca de sinais de falsificações e de provas de que foram realizadas em estúdio, e alegam que são capazes de provar que a bandeira dos Estados Unidos estava ondulando, no que supostamente seria o vácuo do espaço. Também superestimam sistematicamente os riscos que atravessar os cinturões de radiação que circundam o nosso planeta representam para a saúde humana, e a cada vez que morre alguém ligado ao programa não demoram a fazer alegações de assassinato, vinculando cada um desses casos a uma grande conspiração para ocultar a trapaça.

E embora não existam indicações confiáveis em apoio a essas opiniões e a improbabilidade imensa de que alguém tenha sido capaz de executar uma tramoia dessas dimensões e mantê-la em segredo por quatro décadas seja um desestímulo até mesmo à mais ativa das imaginações, os descrentes continuam a reunir acusações até hoje. Os argumentos que apresentam são reforçados por filmes como um documentário exibido pela rede de TV Fox em 2001 ou a produção independente "A Funny Thing Happened on the Way to the Moon", uma narrativa sobre a suposta trapaça dirigida por Bart Sibrel, um cineasta do Tennessee.

"Trata-se de pessoas normais e inteligentes que realmente acreditam nessas teorias da conspiração", afirma Philip Plait, astrônomo e escritor que rebate os teóricos da conspiração ponto a ponto, e de forma dolorosamente extensa, em seu livro "Bad Astronomy". Ele é uma das muitas pessoas que aderiram ao combate para provar que as missões aconteceram. Uma organização que trabalha de forma coletiva para esse fim, a www.clavius.org, se dedica com afinco a desmantelar as teorias dos descrentes; o principal responsável pelo site, Jay Windley, escolheu o nome da organização como citação da base lunar que Arthur C. Clarke criou em seu clássico de ficção científica -2001: Uma Odisseia no Espaço.

Ainda que as supostas provas apresentadas pelos adeptos de teorias de conspiração possam ser negadas com facilidade, diz Plait, compreender as explicações pode requerer um conhecimento básico de História, fotografia e do funcionamento da ciência e seus métodos. "É preciso um certo esforço", ele. "É preciso que a pessoa se concentre e preste atenção, e a maioria não o faz. É por isso que coisas como essa ganham impulso".

Marino, o autor do post no Lens, é um arquiteto argentino de 31 anos. Em entrevista por e-mail, ele disse que a corrupção política durante os anos de ditadura em seu país influenciou sua forma de pensar. "Comecei a compreender de que maneira a corrupção política opera e de que forma isso serve aos interesses daqueles poucos poderosos que realmente governam o mundo".

Em suas viagens pelo mundo - ele hoje vive e trabalha na China-, Marino contou ter recolhido muitos livros que alegam que as missões foram falsificadas, e informa que assistiu a documentários como o de Sibrel, que pinta um retrato sombrio sobre a manipulação política no governo Nixon e de alguma maneira conecta a guerra do Vietnã, o Titanic e a Torre de Babel, e tudo isso antes mesmo de chegar às supostas provas fotográficas da trapaça lunar.

Sibrel, que vende seu filme online, costuma abordar astronautas do projeto Apollo em lugares públicos e pedir que jurem sobre uma Bíblia, e diante das câmeras, que caminharam na Lua. Ele irritou Buzz Aldrin a tal ponto em 2002 "abordando-o com uma Bíblia nas mãos e o chamando de covarde, mentiroso e ladrão"- que o ex-astronauta o socou no rosto. Os policiais locais se recusaram a registrar uma queixa contra Aldrin, o segundo homem a caminhar na Lua.

Em entrevista, Sibrel diz que seus esforços para provar que o homem jamais foi à Lua tiveram elevado custo pessoal para ele. "Sofri apenas perseguição e prejuízos financeiros", diz. "Perdi o direito de visitar meu filho. Fui expulso de igrejas. Tudo isso por acreditar que os pousos na Lua foram fraudes".

Ted Goertzel, professor de sociologia na Universidade Rutgers e estudioso dos adeptos de teorias de conspiração, diz que "existe uma espécie semelhante de lógica por trás de todos esses grupos, acredito". Em sua maioria, ele explica, "eles não se esforçam tanto por provar que suas visões são verdadeiras quanto por encontrar pontos fracos naquilo que o outro lado afirma". E dessa maneira, diz, a discussão se torna uma questão de acúmulo em lugar de uma questão de persuasão. "Eles acreditam que dispõem de mais fatos do que o outro lado, e que isso prova que estão certos".

Mark Fenster, professor do Colégio Levin de Direito, na Universidade da Flórida, e autor de muitos artigos sobre os adeptos de teorias da conspiração, afirma que vê semelhanças entre as pessoas que argumentam que as missões lunares jamais aconteceram e aquelas que insistem em que o ataque de 11 de setembro foi planejado pelo governo dos Estados Unidos e que a certidão de nascimento do presidente Barack Obama é falsa: o aspecto central, ele diz, é uma polarização tão profunda que as pessoas terminam por desenvolver uma inabalável convicção de que aqueles que estão no poder "simplesmente não merecem confiança".

O desenvolvimento da Internet como meio de comunicação, apontou ele, tornou possível que os adeptos antes dispersos dessas teorias se reunissem. "Isso permite que as teorias continuem a existir, continuem a estar disponíveis - não se trata de apenas alguns livros empoeirados vendidos com desconto".

Adam Savage, um dos apresentadores do programa de TV "MythBusters", dedicou um episódio no ano passado a desmantelar passo a passo as teorias de que as missões lunares foram falsificadas, de maneira tanto divertida quanto convincente. Mas os adeptos de teorias da conspiração jamais desistem, diz. "Eles afirmam que é preciso manter a mente aberta", diz, "mas rejeitam todas as provas que não se enquadrem às teses que propõem".

Para os homens que realmente foram à Lua -eu já mencionei que nós levamos astronautas à Lua? Seis vezes?-, as teorias de conspiração são simplesmente irritantes.

Harrison Schmitt, piloto do módulo lunar na última das missões Apollo e posteriormente senador federal, declarou em entrevista que o estado lastimável das escolas do país tem resultados previsíveis. "Se as pessoas decidem que vão negar os fatos da História e os fatos da ciência e tecnologia, não há muito que se possa fazer a respeito", ele disse. "Quanto à maioria dessas pessoas, eu simplesmente lamento o fracasso do nosso sistema educacional", diz Schmitt.

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