Críticas de astrólogos a artigo publicado na revista Ciência Hoje são respondidas pelo autor
A publicação do artigo “Astronomia versus astrologia” na edição de janeiro/fevereiro de 2009 da revista Ciência Hoje motivou uma reação veemente por parte de astrólogos e simpatizantes dessa prática. As críticas dos leitores foram encaminhadas ao autor do artigo, o astrônomo Carlos Alexandre Wuensche, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A CH On-line agora traz a público esse debate.
No artigo, Wuensche procura mostrar que a astrologia não é uma ciência, no sentido moderno desse termo. Ele argumenta que não há evidência científica de que os astros podem revelar aspectos ocultos de nossa personalidade ou influenciar nosso comportamento, nosso dia-a-dia e nosso destino.
Cerca de 20 mensagens com críticas ao artigo chegaram à redação da Ciência Hoje. A maioria delas apenas apoia – a pedido da própria autora – a carta da astróloga Celisa Beranger, que se identifica como ex-presidente do Sindicato dos Astrólogos do Estado do Rio de Janeiro. Mas há também algumas críticas independentes. As mensagens contestam os argumentos usados contra a astrologia.
Beranger aponta algumas incorreções do artigo e questiona informações sobre o uso das constelações pela astrologia, o papel dos signos solares nos mapas astrológicos e a inclusão de planetas recém-descobertos e corpos celestes nas previsões. Ela também critica a omissão de um trabalho estatístico feito pelo francês Michel Gauquelin, que comprova a correspondência entre as posições dos astros no momento do nascimento de um indivíduo e seus traços de personalidade.
Outro ponto levantado é que os astrólogos não pretendem que a astrologia seja considerada uma ciência. O leitor Jayme Carvalho pondera que a astrologia é um saber que está fora do âmbito da ciência, mas ambas são campos do saber. Ele alega que se trata apenas de duas formas diferentes de ver o mundo e de se relacionar com o real. Por isso, a astrologia não poderia ser avaliada segundo critérios científicos. Nessa mesma linha, a leitora Fátima Valezin ressalta a impropriedade dos argumentos usados por Wuensche – que é astrônomo – contra a astrologia.
O astrólogo Alexey Dodsworth, que assina como Diretor Técnico da Central Nacional de Astrologia, bacharel em filosofia e aluno de graduação em astronomia, destaca – entre outras questões – que a ideia de causalidade aplicada à astrologia não é unânime. Na verdade, a crença de que os astros influenciam comportamentos e fatos seria aceita apenas pela minoria dos astrólogos.
Há ainda uma mensagem do astrólogo e pesquisador Francisco Seabra, que se apresenta como ex-professor do curso de astrologia para pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB). Seabra contesta os dados apresentados no artigo sobre o baixo percentual de acertos das previsões astrológicas e cita uma pesquisa realizada no Instituto de Tecnologia da UnB que apontou um índice de acerto de 95% nas interpretações de mapas astrológicos feitas por ele.
Em resposta às críticas dos leitores, o astrônomo Carlos Alexandre Wuensche rebate:
Parece-me que a maioria dos leitores que criticou o artigo “Astronomia versus astrologia” não o leu de forma isenta. Aceito e respeito visões alternativas de mundo, e vejo a astrologia, assim como a ciência, como apenas duas entre elas. O artigo mostrou a diferença entre ambas e as falhas do saber astrológico à luz do saber científico.
Normalmente os meios de comunicação mostram previsões astrológicas oriundas de cartas de pessoas famosas ou mesmo de um país, mas raramente mostram a fração de acertos correspondente. O artigo levanta várias questões sobre a fração de acertos e a capacidade de previsão que a astrologia afirma ter. A conclusão afirma que nenhuma dessas questões seria, de fato, relevante, se a astrologia realmente pudesse fazer o que diz ser capaz e se esses resultados pudessem ser validados entre seus próprios pares e aceitos, além de uma dúvida razoável, por profissionais de ciências.
O principal objetivo do artigo é mostrar que a astrologia não é uma ciência, no sentido moderno do termo, e não satisfaz seus critérios de validade, mas, apesar disso, um número grande de astrólogos usa o jargão científico e um arremedo de seus métodos para emprestar maior credibilidade a suas atuações.
Sobre incorreções apontadas, reconheço que a época em que Ptolomeu viveu de fato foi o século 2 d.C., e não a.C., como está escrito. Por outro lado, de acordo com pelo menos dez livros e manuais de astrologia consultados, algumas páginas virtuais brasileiras e estrangeiras e um trecho publicado no Astrological Journal (julho de 1991, pág. 262), os signos solares são, geralmente, o fator principal em qualquer carta astrológica.
Além disso, cerca de 50% dos títulos sobre astrologia encontrados nas grandes livrarias do país partem da caracterização dos signos solares. O ponto de partida para garimpar qualquer informação astrológica é a data de nascimento, que aponta para o signo solar. Não deixei de mencionar que existem vários outros elementos na confecção de uma carta astrológica. Solstícios e equinócios não mudam, as doze casas também não (360/30 = 12 sempre!), os signos jamais coincidiram exatamente com as constelações e o simbolismo utilizado, com todas essas mudanças, também é o mesmo.
Com relação ao trabalho de Michel Gauquelin, apontado como omissão por um dos leitores, poderia tê-lo citado como resultado ambíguo, isto é, que não confirma totalmente, mas também não contradiz o pressuposto astrológico. Não há consenso sobre sua exatidão, particularmente o efeito Marte, nem entre astrólogos, nem entre cientistas, conforme discutido por G. Dean nos artigos "The Gauquelin works: opinions, artifacts, puzzles" e "A concise history with photographs", disponíveis na internet. O número grande de coincidências – de fato existente – encontrado nos trabalhos de Gauquelin pode ser bem explicado por artefatos que nada têm a ver com a astrologia.
Um dos leitores menciona a pesquisa realizada por ele na UnB e afirma ter 95% de acerto, conforme veiculado no Globo Repórter. Como não tive acesso à pesquisa, somente aos resultados, repasso nessa resposta o link do programa. Gostaria de saber mais a respeito.
A inclusão de novos planetas e suas respectivas regências realmente parece ser uma questão delicada, já que, com a enormidade de novos planetas anões e exoplanetas sendo encontrados, rapidamente a carta astrológica que pretende ser completa não vai ter espaço para incluir todos os componentes necessários nem os símbolos mitológicos para associar a eles.
O rótulo de pseudociência encaixa-se quando uma área do saber pretende usar as vantagens do "rótulo científico" sem se submeter a seus padrões. As referências a crença ou adivinhação não foram colocadas em tom pejorativo, elas foram encontradas em dicionários, livros e páginas de pesquisa na internet.
Finalmente, admito que certamente existem astrólogos que, de fato, não pretendem que a astrologia seja reconhecida pelo meio científico e atuam de forma a deixar claro que ambas são visões diferentes de mundo. Tenho certeza que, se isso ficar claro, uma boa parte das divergências entre ambas simplesmente desaparecerá.
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